AVALIAÇÃO esse fantasma...
marquesarede
Avaliação é uma palavra que causa arrepios em muitas escolas. Os estudantes, os professores e os pais sofrem ao ouvir que o período de avaliações está por perto. Mas, o que se quer provar com as provas de avaliação?
Avaliação mensal, oral, semanal, relâmpago, processual, auto-avaliação, seja qual for o nome que se inventar para esse instrumento de análise ao conhecimento do aluno, a avaliação possui o mesmo objetivo: o da verificação. Verificar se o aluno aprendeu, avançou, paralisou, conquistou ou superou. Mas, para que avaliar?
Avaliar para superar um estágio, para avançar, para progredir. E de que maneira, especificamente? Como e para quem a escola quer que o estudante comunique o que aprendeu? O processo de avaliação, tal como vivemos no nosso ensino e como ainda é vivido em muitas escolas, é um processo de aferição de conhecimento, de diagnóstico, de manutenção das estatísticas dadas pelos resultados periódicos da avaliação. A avaliação escolar fechada e directiva é um instrumento parecido com os exames hospitalares. Separa-se o que se quer examinar, matérias ou órgãos, prepara-se o tipo de exame específico e, por fim, aplica-se e avalia-se os resultados. Medica-se, se necessário, ou se dá alta.
A avaliação, dentro do espaço escolar, deve dar um passo além dos modelos examinatórios propostos. Devem-se multiplicar as perspectivas de avaliação.
Sabemos que a avaliação do estudante deve ser contínua e ampla, mas também que abra a possibilidade de novas perspectivas. A avaliação deve estar preocupada em possibilitar expressões diversas, deve ser um instrumental pessoal que sintetize, organize e expresse as relações que cada um estabeleceu com o conhecimento.
Os professores, devem meditar e entender que serão sempre incapazes de rastrear exactamente o que o aluno aprendeu sobre o assunto ou conteúdo estudado. Avaliar é possibilitar e atribuir sentido à comunicação.
O que acontece, na maioria das escolas e na própria concepção de avaliação, é que a mesma é sempre realizada ao fim de um percurso, de forma restritiva, recortada e valorizando apenas a escrita (no caso das provas) e a moral (no caso do processo confessionário da auto-avaliação). A avaliação procura "capturar" um determinado conhecimento do estudante sem levar em conta a forma como aquele conhecimento pode ter modificado seu pensamento ou como ele se associa a outros saberes.
Quem já não passou por momentos na infância em que foi obrigado a cumprir uma prova dos saberes acumulados durante um período e, justamente no dia de se submeter á prova sentiu aquela dor de barriga? Pensando na dor, se desconcentrou e esqueceu de conferir as respostas. Conclusão: ZERO.
Quando ampliamos os instrumentos de avaliação, possibilitamos que o aluno expresse as múltiplas associações que foram produzidas a partir de um conhecimento. Isso é formação, isso é saber! Para formar, é preciso um outro tipo de relação com o tempo. É necessário alargar e atribuir outro sentido ao tempo, tanto nas relações com o processo de trabalho quanto na relação estabelecida com os produtos desse trabalho.
A avaliação vem para nos dizer: siga esse caminho, tome essas providências, mas, na verdade, o caminho já está traçado! Ampliando e produzindo diferentes e novas perspectivas, abrimos fissuras, escapes e caminhos de fuga para que não nos aprisionemos em modelos antigos que limitam e barram as diversas possibilidades do saber.
Sem dúvida nenhuma a avaliação é fundamental na escola. Não para a manutenção de um aluno, com prazo de validade, aquele que existe enquanto durar a escola, mas para produzir um estudante, capaz de interagir, aprimorar, produzir, inventar e associar conhecimentos. Um indivíduo que não se contente com a escola, mas sim que vá para além dela... ou, em alguns casos, apesar dela.